Uma das grandes características das nossas cidades, está no fato de que elas não foram construídas apenas para gerir o bem estar das pessoas que nelas vivem. O meio urbano nasce das necessidades e interesses de atores sociais diferentes e, principalmente, antagônicos.
É muito interessante ouvirmos em diversos discursos políticos a frase: “Temos que lutar pelo interesse da cidade”, como se nela houvesse apenas um único interesse. Essa afirmação tem no seu bojo um conteúdo ideológico de preservar o interesse daqueles que a dominam. E no espaço urbano, as classes populares tiveram sempre reservadas os piores lugares, aquela que não interessava a elite. O que importa é o interesse do Capital:
Urbanização implica necessariamente investimento no território: mas a urbanização capitalista não tem como fim o uso do solo por seus moradores, e sim a especulação com a terra e a dos imóveis. 1
É dentro dessa contradição urbana que devemos debater as questões ambientais. O manual da campanha da fraternidade da CNBB desse ano, que tem como tema a fraternidade e a vida do planeta, apresenta estudos feitos pelo IPCC, instituição ligada a ONU :
o aumento da temperatura, ou seja a variação média da terra ocorreu a partir de 1750, período que coincide com a implantação do sistema industrial em muitos países.
Ora, se hoje falamos em aquecimento global, estamos falando de um desenvolvimento urbano capitalista onde o limite não existe, em que as áreas de ambientes naturais sempre foram vistas como barreiras a serem suplantadas. Os rios , as matas, os morros não fizeram parte da geometria urbana, a não ser quando havia interesse por parte do capital. O tipo de consumo desenfreado nos leva a uma poluição atmosférica extraordinária, a um esgotamento da terra, provocados pelas queimadas e pelo uso de agrotóxicos, criando uma situação alarmante.
Se tivemos as diversas Eras, como a era do capital e do império, atualmente está sendo retomado o conceito apresentado por E. P. Thompson, para descrever o período da guerra fria, de era do exterminismo:
Vivemos uma era de exterminismo. Pela primeira vez na história da humanidade, não por efeito de armas nucleares, mas pelo descontrole da produção industrial (o veneno radioativo Plutônio 239 tem um tempo de degradação de 24 mil anos), podemos destruir toda a vida do planeta. Passamos do modo de produção para o modo de destruição. 2
Para terminar esse primeiro artigo sobre esse tema, é necessário ter claro que o problema não está na questão do desenvolvimento ou do não desenvolvimeno urbano, mas na discussão acerca do tipo de desenvolvimento que as nossas cidades devem ter, que espaços devem ser construídos para que não prevaleçam os interesses de uma pequena parcela da sociedade e como esse desenvolvimento não esteja sob o signo do capital, mas em detrimento do ser humano integrado ao ambiente em que vive e sobrevive como um todo.
Notas:
1. Silva, Itamar Silva eLins, Renata in Remoções: as palavras e as coisas. Democracia Viva Nº 45 IbaseJulho 2010 Página 10 – Rio de Janeiro
2. Gadoti, Moacir in Pedagogia da terra: Ecopedagogia e educação sustentável. http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/torres/gadotti.pdf pesquisado em 12-03-2011.
Gilberto Simplício