domingo, 21 de fevereiro de 2010

ECONOMIA E VIDA: DA DENÚNCIA AO ANÚNCIO

A Campanha da Fraternidade de 2010, que traz como tema: ECONOMIA E VIDA, e Vocês não podem Servir a Deus e ao Dinheiro (Mt 6,24) como lema, pode ser analisada sob alguns aspectos que nos ajudam a pensar ou repensar caminhos para o desenvolvimento de práticas sociais voltadas para a emancipação social das camadas excluídas da nossa sociedade.

A Campanha da Fraternidade, como sabemos,  é organizada todos os anos pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), e tem nas suas comunidades o seu espaço de atuação. Este ano, porém, pela terceira vez, a organização passa a ser feita pelo CONIC (Conselho Nacional das Igrejas Cristãs). Apesar da limitada representação entre as diversas Igrejas Cristãs existentes no Brasil, esse fato reafirma que se é possível o ecumenismo acontecer, certamente isso se dará pela prática social dentro da perspectiva da opção pelos pobres.

O tema desse ano se volta necessariamente para a questão da emancipação social, pensada a partir da crítica à economia neoliberal e buscando alternativas econômicas a partir de outra referência que não seja o acúmulo de capital. Podemos perceber isso no momento em que a palavra Economia é colocada ao lado da palavra Vida. Esse fato leva necessariamente a uma crítica à economia enquanto ciência, o que dá a entender que, dentro da nossa realidade, as políticas econômicas estiveram afastadas das necessidades da maioria da nossa população. Portanto, a Economia não pode ser neutra,  por trás das políticas econômicas há pessoas, vidas, nações que muitas vezes são desconsideradas em prol das necessidades do capital.

Esse tema vem em um momento certo para pensarmos a nossa realidade e buscarmos alternativas acreditando que um novo mundo é possível. A crise econômica em que o mundo foi submerso em 2009 e a tragédia que ocorreu no Haiti (A tragédia natural do terremoto associado à tragédia econômica e política da miséria), estão dentro do contexto dessa economia, onde o capital financeiro e especulativo é o dominante, tendo o mercado como o grande maestro de toda orquestra organizada para fortalecimento do capitalismo globalizado. O Banco Mundial, o FMI e a OMC (Organização Mundial do Comércio), continuam sendo os gestores dos interesses das elites dos países dominantes associados aos interesses internos das elites nacionais dos países periféricos.

O Mercado é colocado como o gestor da felicidade da humanidade, somente a partir dele é que o progresso e a prosperidade têm condições de serem atingidos. Aos poucos se percebe as armadilhas em que todos nós caímos, onde em vez de riqueza e felicidade, surgem a miséria e a infelicidade humana. O "deus" Mercado não põe as suas mãos em prol de todos, mas na proteção daqueles que buscam cada vez mais acumular capital.

O mercado se apresenta como a a história mitológica da mão de Midas, onde Dionísio (o deus do vinho) agradecido ao rei Midas por ter acolhido e protegido seu mestre e pai de criação Sileno, deu a ele o direito de escolher a recompensa que quisesse e Midas pede que tivesse o poder de tudo que tocasse virasse ouro. O seu grande desejo era acumular cada vez mais riquezas e teve como consequência a total infelicidade, pois  além da fome(até os alimentos viraram ouro) acabou fazendo a própria filha também virar ouro . O Mercado é assim também, tudo que ele toca vira lucro: a educação, a saúde, a previdência, o meio ambiente, a política assistencial, a moradia popular, até as demandas provocadas por grandes tragédias naturais. O seu grande objetivo é obter mais lucro, é acumular riquezas, não importanto se com isso irá trazer infelicidades, destruições ambientais, desempregos e miséria.

A Campanha da Fraternidade vem denunciar o projeto Neoliberal que tem nesse Mercado a sua referência, mostrando que é necessário buscar novos referenciais para a construção de uma sociedade nova. E apresenta a Economia Solidária como uma dessas referências. Em outro artigo falaremos um pouco das experiências de Economia Solidária existentes no Brasil.

Gilberto Simplício

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